Iniciado
há apenas três safras, o cultivo mundial de algodão sustentável atingiu a marca
de 670 mil toneladas na safra 2011/12, ou 3% da produção mundial da fibra na
temporada. Restrito até então a Brasil, Índia, Paquistão e Mali, a Better
Cotton Initiative (BCI) ganhou neste ano a adesão de produtores da China,
Turquia e Moçambique e até 2015 EUA e Austrália também entrarão no grupo, o que
deve elevar a produção sustentável total da fibra para 2,6 milhões de
toneladas. O movimento preconiza uma cotonicultura com menor impacto ambiental
e mais ganhos financeiros e sociais ao produtor.
"Ter
3% da produção total de algodão sustentável em apenas três anos não é pouco - é
mais que a produção mundial de orgânicos e 'fair trade', segmentos muito mais
consolidados", diz a britânica Lilly Gilbert, gerente da BCI. "A
partir de agora teremos os grandes produtores e consumidores conosco".
Após os
primeiros anos de implementação da BCI, a estratégia de expansão desenhada para
o período de 2013 a 2015 ambiciona não só a entrada de mais produtores mas
também indústria e varejistas, impulsionando a cadeia como um todo. No Brasil,
por exemplo, a única têxtil que aderiu à BCI foi a Vicunha. A ideia, diz Lilly,
é fazer da BCI um algodão "mainstream" (de tendência predominante) e
não voltado ao nicho de consumidores conscientes. "É ambicioso mas
realista", diz ela, que veio a São Paulo na semana passada para atrair
novos membros.
Nos
próximos dois anos, a expectativa é atingir a meta de 2,6 milhões de toneladas
de algodão BCI produzidos por 1 milhão de produtores licenciados. Até 2020, a
meta é representar 30% da produção global de algodão, o que envolveria 5
milhões de produtores, com o potencial de beneficiar 20 milhões de pessoas,
levando-se em consideração o papel das famílias nesse tipo de atividade
agrícola.
Lilly
cita os avanços vistos até agora ao dizer que as metas são possíveis de serem
atingidas. Em duas safras, o número de produtores licenciados cresceu de 68 mil
para 165 mil, sendo que a área plantada pulou de 225 mil hectares para 550 mil.
A produção, por sua vez, subiu de 35 mil toneladas em 2010 para 670 mil toneladas
colhidas no ano passado. O Brasil, sozinho, abocanhou metade desses números,
seja em área ou em volume. "Ao contrário dos demais países, nossa
agricultura é de grandes propriedades rurais", diz Andrea Aragon,
coordenadora brasileira da BCI. A implementação do projeto no país conta com a
parceria da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
Por
esse motivo, o Brasil tem sido até agora a mola propulsora da expansão da BCI.
Andrea estima que tenha havido a adesão de 140 produtores da Bahia, Goiás, Mato
Grosso, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul em 2011/12 (os números estão sendo
analisados), em cerca de 200 mil hectares de área plantada e que resultaram em
350 mil toneladas da fibra. No mesmo período, o país colheu o total de 1,8
milhão de toneladas de algodão.
A BCI
determina, entre outros pontos, a utilização de um menor volume de água e
pesticidas no plantio e implementação da rotação de culturas para melhorar a
qualidade do solo. Diferentemente de outros selos que aferem sustentabilidade,
a BCI se autodeclara "tecnologicamente neutra" - em outras palavras,
aceita lavouras de algodão geneticamente modificado.
A
decisão de não segregar plantações transgênicas é particularmente importante
porque grandes produtores já aderiram à tecnologia, como Brasil, China, Índia e
os Estados Unidos. "O que importa são os benefícios gerados. Não entramos
no mérito da tecnologia que o produtor preferiu", diz Lilly.
De modo
geral, houve uma melhora nos últimos dois anos no gerenciamento da produção. Na
Índia, o uso de pesticidas caiu 40%, o de água 20% e a produtividade subiu 20%,
segundo a BCI. No Paquistão, as reduções foram de 20% e 38%, respectivamente,
com ganho de produtividade de 8%. No caso brasileiro, a seca que assolou alguns
Estados produtores e a ocorrência da lagarta do gênero Helicoverpa prejudicaram
as lavouras e impediram ganhos similares aos dos outros países. "Foi
impossível reduzir a aplicação de defensivos por causa da praga", disse
Andrea. "Mas o que importa é saber se o produtor está se esforçando para
melhorar o seu desempenho".
Fonte:
Valor Econômico