Em
palestra no segundo dia do BR Week 2018, Thomas Tochtermann, especialista em
fast fashion, explicou por que a indústria fashion precisa mudar agora.
A
indústria fashion fatura em torno de 1,5 trilhão de Euros no mundo, emprega
mais de 60 milhões de pessoas e é uma das mais importantes do mundo. Esse
tamanho todo, contudo, pressiona os recursos do planeta, de água a energia, e
gera um rastro de poluição ao longo da sua cadeia produtiva. Para ela se manter
relevante, a indústria de fast fashion preciso mudar, afirmou Thomas
Tochtermann, presidente do Conselho da Tom Tailor Holding e Chairman na Danish
Fashion Institute, durante o segundo dia do BR Week, um dos mais importantes
congressos de varejo do País.
“A
indústria fashion é uma rede complexa de produção: temos empresas que produzem
e vendem a matéria-prima, empresas que produzem as peças, empresas que vendem o
produto final. E essa complexidade é um dos desafios que a gente enfrenta”,
afirmou o especialista durante o evento.
Uma
visão mais positiva
É
possível uma indústria desse porte se tornar mais sustentável e, por
consequência, não gerar tantos impactos negativos para o planeta? Segundo o
especialista, já se observa um avanço nesta questão. “Para entender onde
estamos, precisamos nos basear em dados”, afirmou. Um estudo, baseado no Hiig
Index, que mensura a sustentabilidade na indústria de moda e que consegue
cobrir metade da indústria, mostra que a preocupação com o tema já saiu do
papel.
Em
2018, em uma escala de sustentabilidade que vai de zero a 100%, a indústria de
moda registrou uma média de 38% – ou seja, ela ainda tem potencial para ser
ainda mais sustentável, considerando todas as soluções que temos hoje. “Essa
média não é impressionante, mais nos mostra quais empresas estão fazendo alguma
coisa e o que elas entregam”, afirmou.
Em
relação a 2017, quando a média era 32%, o dado também mostra um avanço. “Mas
ainda não é suficiente”, disse. Considerando o porte das empresas, aquelas que
performam bem no index apresentam uma média de 63%. Aquelas que estão na média
do índex apresentam uma pontuação de 22% a 32% no índice. Já aquelas que estão
na base apresentaram uma performance média de apenas 11% em 2018.
Em
relação a 2017, o maior crescimento no índice foi com as médias empresas. Essas
melhorias, explicou o especialista, aconteceram no início e no fim da cadeia de
valor, do design dos materiais ao uso final deles. “Hoje, sabemos que existe
uma pesquisa intensa de materiais mais sustentáveis”, afirmou o especialista.
Outro
recorte dos dados é quando olhamos para os diferentes tipos de empresas de
moda. “As maiores empresas investem mais em termos de inovação em
sustentabilidade. Isso é uma boa notícia: as grandes investem mais”, afirmou. A
má notícia é que metade da indústria de moda, ao menos, é formada por pequenas
empresas. Outra boa notícia é que 90% das companhias de fashion têm metas
sustentáveis e para 50% delas, esses targets guiam decisões.
Segundo
Tochtermann, quando se fala em sustentabilidade, os CEOs questionam os custos.
“Eles sempre dizem que sustentabilidade é bom, mas custa dinheiro, é mais caro
para o consumidor que, ao fim, tem e pagar a conta. Contudo, o investimento em
sustentabilidade aumenta a eficiência da cadeia entre 40% e 80%”, explicou.
Agenda
sustentável 2018
O
que fazer, então, para a indústria de moda ser mais sustentável. Tochtermann
afirma que há uma agenda para os CEOs em torno do tema. “É uma agenda que está
definida, mas é complexa, porque são necessárias mudanças sociais, de negócios,
mas as soluções já existem e essa é a boa notícia”, afirmou o especialista.
“Se
você está na indústria fashion, precisa entender o impacto que a sua cadeia de
valor gera”, disse. “Temos de pensar mais no começo, no desenvolvimento dos
produtos, o que acontece com eles no final, quando são descartados”, disse.
Transformação
digital
O
que a transformação digital tem a ver com tudo isso? Há muita conexão entre o
digital e a sustentabilidade e a indústria precisa fazer essa grande mudança
para ser mais sustentável, segundo o especialista. Segundo ele, em 2020, a
maior parte da manufatura será formada por robôs.
“A
transformação digital é um trigger para a indústria e isso inclui a performance
da companhia. Quando as empresas são mais produtividade, elas geram um impacto
menor”, disse. Segundo ele, a aplicação do digital pode reduzir em 48% o tempo
que um item leva para passar por toda a cadeia – com essa redução, produz-se
apenas aquilo que de fato é demanda e há menos desperdício. “A transformação
digital nos ajuda a fazer mudanças profundas na indústria, porque mudanças
incrementais não são mais suficientes. Mas vale o investimento”, afirmou.
Fonte: Portal
no Varejo