domingo, 5 de março de 2017

No Brasil, Reciclagem e troca de roupas ditam tendência


As mudanças na forma de consumir desembarcaram no Brasil, com iniciativas para facilitar a vida de quem precisa consertar um aparelho ou projetos de upcycling, que reutilizam sobras, resíduos e produtos inutilizados para criar novas peças.

Uma das que tentam mudar o modo de fazer moda é Gabriela Mazepa, fundadora do Re-Roupa, que mistura loja com oficinas e palestras de upcycling, e tem um lado social, ao empregar costureiras de comunidades de baixa renda.
A criação no upcycling, conta a estilista, é um desafio a mais. Isso porque os tecidos usados são retalhos que fábricas e confecções jogariam no lixo:

— Não posso definir que vou fazer uma coleção toda amarela, por exemplo, porque não escolho os tecidos que vou pegar. É um processo criativo muito intenso, porque você não sabe o que vai aparecer.

E a ideia de não comprar à toa vai além das roupas, segundo Gabriela, que diz procurar quem conserte seus aparelhos quando eles quebram:

— Meu pai é engenheiro e consertava as coisas na nossa casa. Para mim, isso é natural, sempre que posso, tento estender a vida das coisas. Mas não sou radical, se for preciso, compro.

O upcycling virou curso do IED, na Urca. E, em breve, voltará a ser tema de aulas, mas com foco na aplicação da técnica ao design, transformando um objeto em outro, conta Fabio Palma, diretor do IED do Rio.

— A economia hoje é linear: produzida num canto, vendida em outro e consumida na ponta. No upcycling, você fecha um ciclo, usa matéria-prima que era descarte e volta a ser matéria-prima. — diz Palma. — A economia circular é mais sustentável e respeitosa ao meio ambiente.

Fruto do Re-Roupa, o Roupa Livre mistura eventos de troca de roupas, produção de conteúdo, um site que mapeia iniciativas de consumo consciente e um aplicativo para celular em fase de gestação, mas que promete promover essa forma de olhar para as coisas. Para Mari Pelli, fundadora do Roupa Livre, a troca de peças já era feita dentro das famílias, mas ganhou nova cara:

— O que anos atrás não parecia interessante, hoje chega a ser uma alternativa viável para substituir a necessidade de compra. Não compro nada novo há três anos. Só renovo meu guarda-roupa com troca, reforma, transformação, consertos e roupas de segunda mão.

Uber dos consertos

E para ajudar quem acredita que o que quebrou deve ser consertado e não trocado, surgiu o Consertaê — um “Uber” dos reparos. O site cadastra técnicos, checando antes habilidades, referências e antecedentes criminais. Do outro lado, o cliente agenda o atendimento, preenchendo um formulário no site, no qual indica o problema e o melhor dia e horário para o serviço — que pode ser pago com cartão de crédito.

— Com a crise, o número de pessoas que preferem consertar aumentou bastante. Porém, acho que, mesmo após o Brasil se recuperar, o comportamento continuará — diz Marcílio Quintino, fundador do Consertaê.

Uma das usuárias da plataforma é a empresária Jessica Paula, que procurou um técnico para reparar seu celular:

— Poder consertar é uma opção melhor que comprar outro.

Outra iniciativa que recicla dando novo valor ao produto é a Retalhar. Ela tem parceria com 20 empresas e transforma resíduos têxteis, como uniformes antigos, em brindes, cobertores para doação ou mantas acústicas, usadas em construção. A prática é vantajosa para o meio ambiente e para empresas, que garantem o descarte correto dos uniformes.

Fonte: Revista Pegn