Por Marcelo V. Prado
A indústria da moda no mundo, assim
como outros setores produtores de bens de consumo, vem se desenvolvendo de
forma consistente nos últimos anos, o que, infelizmente, não tem se repetido no
Brasil desde 2010, quando o PIB brasileiro registrou pela última vez uma
expansão significativa.
O Iemi acaba de divulgar os resultados
de seu Painel de Pesquisa Anual, no qual registrou uma nova queda na produção
de vestuário no Brasil, em 2014, em relação ao ano anterior, com uma redução de
0,5% nos volumes fabricados, quando medidos em número de peças. Esse número não
satisfaz a ninguém, mas ainda assim é melhor do que se esperava até então, com
base em indicadores conjunturais como os apresentados pela Pesquisa Industrial
Mensal do IBGE (PIM), que previam quedas superiores a 3%.
Em termos nominais, o valor da produção
em geral teve alta de 5,6%, o que é positivo para o segmento, mas ainda
insuficiente para cobrir a variação média dos preços no país, que ficou em
torno de 6,5% em 2014, segundo o IPCA (IBGE), que é o índice oficial adotado
pelo governo.
Esses números fazem parte do Estudo do
Mercado Potencial de Vestuário, Meias e Acessórios, elaborado e recém-lançado
pelo Iemi – Inteligência de Mercado para atender às necessidades de
planejamento mercadológico das empresas que atuam nesse segmento.
O estudo mostra, entre muitos
indicadores, que a evolução do setor não tem sido uniforme, quando se analisam
as diferentes linhas de produtos de vestuário fabricadas no país. Roupas
femininas, por exemplo, principal foco da produção brasileira de artigos de
moda, apresentou uma queda levemente inferior à média geral do setor, com
redução de apenas 0,2% no volume total de peças confeccionadas. Em receitas
nominais, esse segmento movimentou nada menos que R$ 46,6 bilhões no acumulado
do ano, a preços de fábrica, com destaque para a linha casual adulto.
A produção de roupas esportivas, por
sua vez, mesmo em ano de Copa do Mundo, e com receitas de R$ 10 bilhões,
frustrou o setor com um crescimento nominal de apenas 2,1% em relação ao ano
anterior, bem inferior ao registrado pela linha de jeanswear, por exemplo, que
avançou 4,7% no mesmo período (em valores nominais), alcançando R$ 8,1 bilhões.
As linhas de produto que apresentaram
melhor desempenho no ano passado foram as de moda íntima e dormir, com avanço
de 10,1% nas receitas geradas em valores nominais; a linha de moda praia, com
9,8%; e a de roupas profissionais e promocionais, com 9,6% (sempre em valores
nominais, comparativamente aos resultados observados no ano anterior).
A participação dos artigos importados
no suprimento do mercado interno, por sua vez, voltou a crescer e alcançou uma
média de 13% do volume total em peças, quando considerado todo o mix de
produtos e os diferentes canais de venda. Quando se analisa essa participação
em valores, os importados se aproximaram de 20% do total do consumo interno,
demonstrando que o que importa hoje, cada vez mais, são os produtos de maior
valor agregado. Essa participação pode superar os 30% nos canais de varejo de
grande superfície, como as lojas de departamento e os hipermercados, que são os
maiores importadores do segmento, juntamente com as grandes indústrias e marcas
do país, que importam para complementar seu mix de produtos.
Para 2015, porém, o cenário se mostra
um pouco mais animador, com uma estimativa de crescimento de 0,7% para a
produção nacional de vestuário em volumes de peças, favorecida pela
desaceleração das importações e por um ano mais “fluido” no varejo, livre dos
longos dias de vacância causados pela Copa do Mundo, quando os shoppings
ficavam vazios e as lojas fechavam por causa dos jogos, além das manifestações
que se espalharam pelo país antes do evento e pelas eleições gerais, entre
outros acontecimentos que tiraram o foco dos brasileiros do consumo de artigos
de moda.
É fato que não estamos falando de uma
projeção de crescimento tão animadora assim, mas é certo que muitas empresas
estarão atentas às oportunidades do mercado, sabendo que os brasileiros vão
adquirir nada menos que 7,1 bilhões de peças de vestuário em 2015,
independentemente dos pesados ajustes em andamento em nossa economia. Meno
male!
Indicadores setoriais
Excepcionalmente, nesta edição da
coluna, em vez dos indicadores conjunturais, apresentamos em primeira mão aos
leitores da revista os indicadores anuais da Produção e Consumo Interno de
Vestuário, Meias e Acessórios no Brasil, já com as primeiras projeções
estatísticas para o ano de 2015. Para maiores detalhes sobre esse mercado,
consulte o site do Iemi (www.iemi.com.br).
Evolução recente e tendências do mercado de
vestuário em 2015 (em milhões de peças)
|
||||||||
Descrição
|
Realizado
|
%
|
Estimado
|
%
|
||||
2010
|
2011
|
2012
|
2013
|
2014
|
Var. 2014/2013
|
2015
|
Var. 2015/2014
|
|
Produção
|
6.437
|
6.321
|
6.125
|
6.172
|
6.144
|
-0,5%
|
6.187
|
0,7%
|
Importação
|
405
|
640
|
748
|
845
|
917
|
8,6%
|
975
|
6,3%
|
Exportação
|
40
|
39
|
29
|
27
|
23
|
-15,9%
|
20
|
-13,6%
|
Cons. aparente
|
6.802
|
6.922
|
6.845
|
6.990
|
7.038
|
0,7%
|
7.142
|
1,5%
|
Imp./Consumo
|
6,0%
|
9,3%
|
10,9%
|
12,1%
|
13,0%
|
—
|
13,6%
|
—
|
Exp./Produção
|
0,6%
|
0,6%
|
0,5%
|
0,4%
|
0,4%
|
—
|
0,3%
|
—
|
Fonte: Iemi.
Marcelo V.
Prado é sócio-diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi) e
membro do Comitê Têxtil da Fiesp.
coluna.cp@iemi.com.br