quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Modelo de produção santa-cruzense é destaque no Estadão



Segredo está na produção rápida e na criatividade

SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE O que diferencia o polo de confecções do agreste pernambucano? Empresários e representantes de associações comerciais locais e instituições ligadas ao setor têm a mesma resposta: a criatividade e a rapidez da produção local – o que na região se convencionou chamar de “fast fashion”.

O fato de muitas empresas serem familiares permite a rapidez, sem alto custo. Ao mesmo tempo, muitas empresas têm o próprio sistema de transporte, o que garante economia de tempo na entrega, avalia Silvio Oliveira, representante do Sebrae-PE, parceiro do polo.

“A região oferece a facilidade de se ter um produto hoje, outro amanhã, acompanhando tendências”, observa Arnaldo Xavier, da Rota do Mar, o maior empregador da região, cuja meta é ser a maior e melhor empresa de moda surfe e “street wear” do País. São 576 funcionários, R$ 35 milhões de faturamento anual, cinco lojas – duas em Santa Cruz, uma em Toritama e duas em Caruaru – onde comercializa 80% da produção de 150 mil peças ao mês. Os outros 20% são vendidos por representantes em outros Estados – de São Paulo ao Amazonas.

A Rota do Mar participa de duas feiras internacionais – Paris e Madri – sem perder foco no mercado regional, que exige preço em conta. A grife se diz antenada com a moda nacional e internacional.

Também dá exemplo ao adotar uso exclusivo de sacola oxibiodegradável, que se decompõe em oito meses.

Xavier destaca que, ao contrário de muitas marcas que engessam coleções, no agreste pernambucano há facilidade para oferecer novidades sempre. “Isso atrai público.” Segundo ele, se não se cria produto novo, os compradores podem perder o interesse.

Prazo de entrega. Em 1998, em Santa Cruz do Capibaribe, um cliente da confecção Joggofi pediu, com urgência, a confecção de 600 peças. Eram 14 horas. O responsável pela empresa, o ex-bancário José Gomes Filho, comprou o tecido, cortou, mandou bordar, providenciou a costura e às 17 horas do dia seguinte entregou a mercadoria. “Isso continua a acontecer, muitas bordadeiras trabalham à noite”, explica o empresário, que depois de 15 anos de sucesso na área, somente agora vai começar a usar cartão de crédito nas vendas. Sua empresa tem 42 funcionários, fabrica entre 80 e 100 mil peças por mês e tem faturamento mensal de R$ 700 mil.

Em contrapartida, a falta de capacitação de mão de obra e de empresários, a escassez de mão de obra, a duplicação ainda não concluída de um pequeno trecho da BR-104 ligando Caruaru a Santa Cruz são alguns dos desafios do polo. A dificuldade de mão de obra se contrapõe ao orgulho do “desemprego zero” nas cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama. O maior fantasma, porém, é o concorrente chinês, que já fez estrago. Toritama vivia do calçado, há cerca de três décadas. Perdeu terreno para o mercado chinês.

Diante do insucesso com os calçados e da percepção de que Santa Cruz do Capibaribe começava a se dar bem com a produção de confecção, a cidade começou a investir em produção têxtil. Como tinha máquinas pesadas para produzir calçados, decidiu investir em jeans. O menor município do Estado – com 37 mil habitantes – fica com praticamente o dobro da população durante o dia, quando pessoas de cidades vizinhas vão para Toritama para trabalhar, conta Kléber Barbosa, da Associação Comercial e Industrial local.

Angela Lacerda
O Estado de S. Paulo