Roupas
ecológicas ganham espaço no mercado da moda. Peças com o que seria lixo no
Brasil fazem sucesso na Europa e EUA.
As
roupas ecológicas ganham espaço no mercado da moda. As empresas apostam em
peças que usam tingimento natural e até lona de caminhão.
A
empresa de Orivan Pavan é o retrato de duas histórias diferentes. Era uma
fábrica de jeans, chegou a produzir 30 mil peças por mês. Nos últimos anos, não
aguentou a concorrência dos importados chineses, encostou o maquinário e
fechou. No mesmo espaço, há o exemplo da volta por cima. Pavan abriu outro
negócio. Começou a fabricar roupas, bolsas, calçados, feitos de materiais como
garrafa pet, pneu usado, lona velha de caminhão. As peças produzidas com o que
seria lixo no Brasil, hoje fazem o maior sucesso na Europa e Estados Unidos.
Pavan
compra material usado ou reciclado, que vira matéria-prima. A proposta é fazer
produtos poupando recursos naturais, e conquistar o consumidor cada vez mais
consciente. “Século XXI, nova era, e a grande fronteira do século são os
negócios com cunho e conceito de sustentabilidade. Reciclagem, reuso, geração
de renda para comunidades carentes”, diz o empresário.
Para
montar a fábrica ecológica, o empresário investiu R$ 40 mil. Comprou
matéria-prima, desenvolveu os modelos e produziu com equipamentos da antiga
empresa de jeans. O charme está nas peças rasgadas, desbotadas e remendadas.
O
empresário cria todas as peças. As estampas são terceirizadas. Na fábrica, ele
faz o corte e costura dos tecidos. Alguns materiais exigem técnicas
específicas. Para trabalhar a lona, por exemplo, é preciso agulha grossa e até
martelo.
A
criatividade do empresário dá um toque ao produto. Como uma mala dobrável, uma
jaqueta que se transforma em colete, ou um calçado diferente. Uma sandália, por
exemplo, é feita de lona reciclada na parte de cima e na parte de baixo o
solado feito a partir de pneu fatiado. Uma bolsa custa R$ 150. O tênis, R$
200, e um confortável puff sai por R$ 1.500.
A
fábrica produz mil peças por mês – metade é vendida no Brasil, metade é
exportada. As vendas são feitas pela internet ou em lojas especializadas.
“As
perspectivas são boas. A gente está bem animado, com foco firmado no comércio
eletrônico, através da internet, crescimento bom. E também crescimento da
frente de exportação, não só para os países que a gente já trabalha como para
novos clientes em outros lugares também”, diz o empresário.
A
empresária Flavia Aranha é outra que apostou na sustentabilidade. Ela vende
roupas ecológicas para mulheres. Uma volta pela loja é um passeio pela
natureza. Aqui, a matéria-prima decora e explica o produto. A casca de
goiabeira, por exemplo, tingi blusas. Conchas decoram peças. E o couro da
tilápia faz bolsas e sapatos. Em termos de negócio, o apelo ecológico faz as
peças subirem de preço – e atrai clientes.
Flávia
montou o negócio em 2009. Investiu R$ 70 mil em reforma do espaço e estoque.
Ela só usa matéria-prima ecológica, produzida por pequenas comunidades. É o
caso do tecido de seda usado em peças. “É uma parceria com uma cooperativa do
sul, de Maringá, que produz seda ecológica. Então a seda é feita a partir
casulos descartados pela indústria e também pela produção própria deles lá”,
diz Flávia.
A
própria empresária, que também é estilista, desenha as roupas. Nesta sala, o
tecido é cortado segundo o molde. Depois, costurado. As roupas da empresária
são tingidas em fábrica terceirizada, na Grande São Paulo. E é mais um
diferencial. O dono da fábrica, Nelson Trindade, dá vida ao tecido com extratos
naturais de pau-brasil, nogueira e açafrão.
Depois
de pronta, a roupa volta à loja, onde é vendida. O processo artesanal, em
pequena escala, encarece o produto. Mas o apelo ecológico atrai clientes sem
despesas com propaganda, e reduz o preço final das peças. Em média, cada roupa
aqui sai por R$ 250.
A
empresa vende 4 mil peças por ano, sendo que 25% da produção são exportados
para o Japão e a Europa. Muitos estrangeiros que visitam o Brasil são atraídos
pela proposta da loja. Brigitte Ullens, cliente belga, adorou. “Eu me encantei
com a cor. Com a matéria-prima, com o fato de ser uma peça ecológica que
respira. Sobretudo a doçura da cor, do tom”, diz. “É diferente da Bélgica. Nós
ainda não temos lojas como esta, mas estamos começando. E vocês no Brasil estão
na frente”, afirma.
“A
margem que eu preciso praticar para ter saúde no meu negócio não é a mesma de
uma mega empresa. Então, no final, para o consumidor final, eu consigo ter um
preço relativamente competitivo”, relata a empresária.
Fonte: PEGN
TV