A
recente retomada da produção na indústria de transformação do Brasil,
registrada pelo IBGE nos últimos meses, juntamente com a redução do ritmo de
crescimento das importações de artigos confeccionados – de uma média de 30% ao
ano para apenas 5% em 2013 – estão contribuindo para a avaliação de muitos
analistas de que o pior já passou para nossos industriais do setor de
vestuário.
Tal
percepção se reforça ao considerarmos a evolução futura do câmbio, que tende a
apresentar uma valorização continuada do dólar, nos próximos anos, ainda que em
ritmo lento, em meio a expectativas de picos temporários de altas mais
elevadas, com a redução dos incentivos à economia norte-americana.
Esse
comportamento favorável do câmbio certamente ajudará a desestimular ainda mais
as importações e a reduzir a pressão sobre as margens de lucro de nossas
confecções.
Isso
posto, há subsídios suficientes para embasar as expectativas mais recentes que
apontam para uma consolidação da retomada da produção industrial no país nos
próximos cinco anos, aí inserida a indústria brasileira do vestuário.
Entretanto,
é preciso considerar que o que se espera para depois da “tormenta” é uma
desanimadora calmaria, com previsões bastante modestas para os índices de
crescimento do setor, a curto e médio prazo.
Pesam
nessas mornas expectativas, entre outras coisas, a redução no ritmo de expansão
do consumo das famílias e o acirramento da concorrência do varejo multimarca,
principal canal de distribuição das confecções brasileiras, frente às grandes
redes de varejo de moda, ainda em franco desenvolvimento.
Dentro
desse cenário, as pequenas e médias empresas mais uma vez se veem diante de um
grande desafio, que é crescer mais que o mercado, sem perder a lucratividade,
mesmo que seu principal canal de venda não venha a apresentar expansão
significativa nos próximos anos.
Na
competição a ser travada daqui para a frente, uma vantagem que merece ser
destacada é o fato de que ela tende a ser mais equilibrada, ao se concentrar
mais entre as empresas nacionais, que produzem e competem dentro de um mesmo
ambiente econômico.
É
esperado, porém, que em função do diferente desempenho dos canais de varejo de
moda, essa disputa tenderá a pender a favor das empresas de maior porte. Nos
últimos dois anos, os estudos regulares do Iemi vêm apontando para um aumento
na produção das grandes confecções de roupas do Brasil, em contraponto a uma
redução nos volumes produzidos pelas pequenas e médias empresas do segmento.
Está contribuindo
para o crescimento das grandes empresas, entre outras coisas, a implantação de
uma estrutura de comercialização cada vez mais “multicanal”, composta de uma
gestão comercial mais presente junto às lojas multimarcas, aliada à abertura de
lojas de varejo próprias e franqueadas, e-commerce, venda porta a porta etc.,
enquanto a imensa maioria dos pequenos se mantém restrita ao varejo multimarca,
e muitas vezes dependente da demanda gerada por suas lojas de pronta-entrega.
Para
enfrentar os novos desafios que o mercado vem impondo aos pequenos e médios
produtores de vestuário, o mais importante é respeitar a vocação da marca,
valorizando e reforçando uma identidade própria e direcionando os maiores
esforços à construção de diferenciais únicos, no que se refere tanto à linha de
produtos quanto a serviços ao cliente e marketing.
Sejam
de grande ou pequeno porte, sem dúvida, nunca antes as empresas brasileiras do
vestuário se viram tão exigidas em termos de organização, inovação e conceito
de marca. É chegada a hora de mostrar se são realmente capazes de se
diferenciar e de se apresentar ao mercado de uma forma única ou, como preconiza
o sr. Michel Porter, inigualável.
Um
excelente 2014!
INDICADORES
– A
produção de vestuário recuou 15,5% em setembro; já no acumulado no ano, ocorreu
uma queda menor, de 2,5%, segundo a pesquisa industrial mensal do IBGE. O
pessoal ocupado no setor recuou 0,2% no mês, porém, no ano, acumula um
resultado positivo de 2,1%.
– As
vendas no varejo de vestuário recuaram 11,9% em volumes e 11,4% em valores no
mês de setembro, porém, no ano, acumulam um resultado positivo, de 3,2% nos
volumes vendidos e 8,4% nos valores de receita.
–
Segundo o IBGE, os preços do vestuário no varejo aumentaram 1,13% em outubro;
já em relação a outubro do ano passado, houve alta de 5,71%.
– As
exportações brasileiras de vestuário alcançaram US$ 119,5 milhões entre janeiro
e outubro de 2013, com queda de 4,7% sobre o mesmo período de 2012, enquanto as
importações chegaram a US$ 2,0 bilhões, com alta de 8,3%, elevando assim o
déficit da balança comercial do setor em 9,2%.
Conjuntura do setor de vestuário no Brasil
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1.
Produção, emprego, preços (%)
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No mês
|
No ano
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Últimos 12 meses
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.
Produção física (setembro 2013)
|
-15,5%
|
-2,5%
|
-3,0%
|
.
Emprego (setembro 2013)
|
-0,2%
|
2,1%
|
-1,1%
|
.
Vendas no varejo em volumes (setembro 2013)
|
-11,9%
|
3,2%
|
3,6%
|
.
Vendas no varejo em valores (setembro 2013)
|
-11,4%
|
8,4%
|
7,9%
|
.
Preços ao consumidor (outubro 2013) IBGE (1)
|
1,13%
|
3,66%
|
5,71%
|
2.
Comércio exterior (US$ 1.000)
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Jan.-out. 2012
|
Jan.-out. 2013
|
Variação (2)
|
.
Exportação
|
125.369
|
119.533
|
-4,7%
|
.
Importação
|
1.867.588
|
2.021.946
|
8,3%
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. Saldo
(exportação – importação)
|
-1.742.219
|
-1.902.413
|
9,2%
|
Fontes:
IBGE/Secex. Elaboração Iemi.
Notas: (1)
IPCA – Índice de preços ao consumidor amplo – Brasil.
(2) Variação de janeiro a
outubro 2013 / janeiro a outubro 2012.
Marcelo
V. Prado é sócio-diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi)
e membro do Comitê Têxtil da Fiesp.
coluna.cp@iemi.com.br