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Foto: Fernando Ducatti |
O ano
de 2014 tem carregado consigo um grande peso em relação ao anseio por mudanças
urgentes e, ao mesmo tempo, incógnitas de “o que vai acontecer?” eclodindo
agora em outubro, nas urnas, com as eleições presidenciais. Na verdade, esse
será o verdadeiro turning point para o futuro do Brasil.
As
notícias que viemos recebendo – e sentindo na prática – nos últimos anos têm
sido como uma agulha estourando cada mínima bolha de ânimo ou esperança do
empresariado brasileiro, em todos os estratos, desde os micros até os grandes,
como a indústria automobilística, por exemplo, que até pouco tempo viveu uma
explosão de crescimento com os subsídios governamentais, mas agora juntou-se à
banda em recessão (que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, acredita piamente
não estar acontecendo), uma palavra que havíamos parado de escutar com tanta
frequência, mas que voltou à moda junto com a inflação. Uma rima de muito mau
gosto.
Em
julho, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou seu relatório Índice
de Confiança do Empresário Industrial (Icei), um indicador que identifica, por
meio de estatísticas da Sondagem Industrial Setorial, as mudanças na tendência
de produtividade da indústria e a confiança dos empresários de investir ou
aumentar a produção. O indicador desse índice varia de 0 a 100, sendo que,
acima de 50 pontos, significa empresários confiantes. Mas resultado do último
relatório não foi dos melhores. Com 46,4 pontos, o que ele mostra é a queda na
confiança empresarial, o menor valor da série histórica desde o lançamento do
índice, em janeiro de 1999, segundo a CNI. Entre os 28 setores analisados,
apenas o farmacêutico, o de bebidas e o de manutenção e reparação tiveram
índices superiores a 50 pontos. No setor têxtil e confeccionista, a pontuação
foi de 43,4 e 44,5, respectivamente; no de couro e artefatos, 42,8; no de
calçados e suas partes, 42,9; e no de máquinas e equipamentos, 43,6.
“O
desempenho da economia brasileira, obviamente, é produto de opções domésticas e
da crise internacional, que teve efeitos importantes sobre o país. Mas o que
nós acreditamos é que todo início de governo gera um ‘capital político’, e esse
capital precisa ser utilizado para o avanço das reformas institucionais. Todos
os países precisam fazer mudanças incrementais que melhorem seu ambiente
institucional, e no Brasil nós temos muita coisa a ser feita”, disse em recente
declaração o diretor de Políticas e Estratégia da CNI, José Augusto Fernandes.
O
Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre deste ano retraiu 0,6% em
relação ao do primeiro trimestre, que inclusive já havia caído 0,2%, segundo
dados do IBGE, e não deve chegar a 1% até o final deste ano. Que estatística
vergonhosa é essa para um país com tantas riquezas e empresários tão
capacitados e cheios de vontade de crescer, empreender, mas são obrigados a
estagnar por causa de políticas interesseiras, partidárias, que colocam à
frente de qualquer coisa benefícios particulares em vez ndos interesses de uma
nação inteira?
Mas,
como já disse certa vez o economista norte-americano Thomas Sowell, “a primeira
lição da economia é a escassez: nunca há algo em quantidade suficiente para
satisfazer os que o querem. A primeira lição da política é desconsiderar a
primeira lição da economia”. Aqui no Brasil, essa citação tem sido seguida na prática,
ao menos para grande parte da indústria.
O
recém-lançado “Relatório Setorial da Indústria Têxtil Brasileira – Brasil
Têxtil 2014”, feito pelo Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi),
com o apoio institucional da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecção (Abit) por meio do Texbrasil (Programa de Internacionalização da
Indústria da Moda Brasileira) e da Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), que fornece informações
mercadológicas e estruturais ao setor têxtil e confeccionista, atualizadas
anualmente, mostra que o segmento está vivendo um momento crucial e de
profundas transformações, “que exigem de seus mentores todo o empenho e
sagacidade, para que usem os obstáculos conjunturais, como já o fizeram antes,
como alavanca para o desenvolvimento estrutural e consolidação de toda a cadeia
produtiva”, nas palavras de Marcelo Villin Prado, diretor-superintendente do
Iemie colaborador da Costura Perfeita.
Ainda
segundo ele, “o setor tem enorme relevância no desenvolvimento econômico e
social brasileiro, respondendo por 5,7% da receita de toda a indústria de
transformação local. Também dá emprego a mais de 16,4% de todos os
trabalhadores (cerca de 1,6 milhão), que nele encontram seu principal meio de
sustento. É por isso que o acompanhamento regular de sua evolução, de seus
triunfos e dificuldades é mais do que um simples exercício setorial, é uma
necessidade que se insere no núcleo do desenvolvimento nacional”.
Rafael
Cervone, presidente da Abit, ressalta o grande potencial dessa cadeia
produtiva, apesar dos dados desanimadores. “Estamos entre os cinco maiores do
mundo, com um parque de máquinas e equipamentos com custo de reposição
equivalente a mais de R$ 150 bilhões e mais de 33 mil empresas em todo o
território, provando que o setor é, mais que tudo, uma forte vocação nacional.”
Entre
os principais números do relatório, que reúne o balanço de todo o ano de 2013,
o setor têxtil e de confecção produziu US$ 58,2 bilhões, que correspondem a
5,7% do valor total da produção industrial brasileira de transformação. Somando
a quantidade de postos de trabalho gerados, 1,6 milhão – mais de 1,3 milhão só
na confecção –, percebe-se toda a sua importância econômica e impacto social.
Os
investimentos em ampliação da capacidade produtiva, como máquinas, instalações
e treinamento, cresceram pífios 0,5% no setor confeccionista em 2013. No
entanto, na parte de maquinário, especificamente, houve uma queda nos
investimentos em torno de 2,1%, passando de US$ 246 milhões em 2012 para US$
240,7 milhões em 2103.
E a
balança comercial do segmento, ano a ano, vem pendendo para o lado mais fraco,
deixando a cova do déficit cada vez mais funda. Enquanto esse índice era de US$
1,6 milhão em 2009, um ano após a grande crise norte-americana que assolou o
mundo, em 2013 fechou em US$ 4,5 bilhões, um assombroso crescimento de 181% em
apenas quatro anos. As importações de itens confeccionados tiveram alta de 9,4%
em volumes e de 8,6% em valores no ano passado. Se analisado o quadriênio 2009-2013,
os volumes chegam a 121,7% e os valores a 202,9%. Ao mesmo tempo, as
exportações aumentaram só 0,5% em volumes e 24,9% em valores.
Os
fatores que contribuem para esse quadro são diversos, como a valorização
cambial, que favorece as importações e desestimula as exportações, afetando
diretamente a produção nacional para baixo e, como numa cadeia, a queda de
empregos e renda. O famoso “custo Brasil”–energético, de mão de obra, e toda a
parte trabalhista burocrática –, a própria burocracia, a estrutura logística
sucateada, mais as portas abertas aos importados com custo infinitamente
inferior ao dos itens de vestuário brasileiros e nenhuma ação governamental
para mudar esse quadro, entre outras questões, somam-se, como que preparados
para a fabricação de uma bomba-relógio, e esse fio precisa ser cortado
urgentemente.
LEGENDA: Indústria sucateada e deixada de lado: quem poderá resolver o problema das confecções?
Ilustração: Lulu Silva
PRESIDENCIÁVEIS
Com as
eleições presidenciais batendo à porta, Costura Perfeita entrou em contato
com os departamentos de imprensa dos partidos dos principais candidatos – Dilma
Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) –, para saber o que
poderiam fazer em seus planos de governo que ajudasse o setor têxtil e
confeccionista a se reerguer. Até o fechamento desta edição, apenas as
propostas do PT foram apresentadas durante reunião mensal do conselho da Abit.
Assessores do PSDB e do PSB não sinalizaram nada específico para essa
indústria.
Entre
os avanços do governo atual para o setor, o porta-voz do programa de governo da
presidenta Dilma Rousseff destacou as compras governamentais (preferência à
compra de produtos têxteis feitos no país, exceto quando não houver similar
nacional), a desoneração da folha de pagamento, a regulamentação do
Supersimples Nacional, a implantação do Microempreendedor Individual (MEI) e o
Reintegra (Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as
Empresas Exportadoras). Entre as principais propostas, estão: desoneração
produtiva e de investimentos; desburocratização econômica; ampliação dos
programas Pronatec e Inova Empresa; ampliação do financiamento à inovação;
continuação e ampliação do Programa de Sustentação do Investimento (PSI);
criação do Programa de Modernização do Parque Industrial; e reforço na
governança de política industrial.
A Abit,
inclusive, como entidade oficial do setor, preparou um documento com as
principais demandas, de forma objetiva, chamado “Agenda de Prioridades – Têxtil
e Confecção 2015 a 2018”, que foi distribuído aos principais candidatos de
diversos cargos públicos, com o intuito de pautar debates sobre esses pontos.
As propostas
estão divididas por áreas, tais como relações de trabalho (aperfeiçoar e
simplificar a legislação trabalhista, fazer com que a redução da jornada de
trabalho seja uma opção negociada entre as partes interessadas); segurança
jurídica (o atual cenário de insegurança jurídica reduz investimentos pela
falta de confiança no ambiente de negócios); macroeconomia (todo o ambiente de
negócios das empresas, como juros, câmbio, inflação, carga tributária);
tributação e gasto público (aprovação do Regime Tributário Competitivo para a
Confecção – RTCC, acabar com impostos cumulativos, avançar com a Reforma
Tributária no Congresso Nacional); financiamento (crédito caro e escasso,
facilitação de acesso a linhas de crédito para investimentos); infraestrutura
logística cara e ineficiente, energia elétrica); educação (ampliação da
parceria entre os setores público e privado para melhorar a oferta de cursos
profissionais); inovação (fortalecer e aprimorar programas de incentivo e
fomento à inovação, como forma de apoio à competitividade); comércio exterior
(acelerar negociações de acordos internacionais, abrindo novos mercados e
fortalecendo o interno); meio ambiente (simplificar e esclarecer a legislação
atual, exigir que os produtos importados cumpram as mesmas exigências
ambientais, trabalhistas e de saúde); gestão burocrática (construção de um
gabinete ligado à Presidência da República com o único objetivo de
desburocratizar processos, redução do número de ministérios ao nível do de
países desenvolvidos); e micro e pequena empresa (políticas públicas que deem
tratamento diferenciado e favorável a esse tipo de empresa, a grande maioria
que compõe o setor). A agenda completa pode ser conferida e baixada no site da
Abit (www.abit.org.br/conteudo/links/publicacoes/agenda_site.pdf).
O QUE ELES ESPERAM DO
PRÓXIMO GOVERNO?
Para
saber o que esperam da próxima Presidência do Brasil, colhemos os depoimentos
de empresários e entidades do setor têxtil e de confecção. A intenção não é
levantar bandeiras partidárias, mas, sim, mostrar os anseios da indústria, para
que sejam ouvidos e considerados. Afinal, o próximo governo será decisivo para
o setor, e esperamos que de forma positiva. Confira a seguir as opiniões e
aproveite para refletir sobre os prós e contras de seu candidato, fazendo uma
escolha consciente nas urnas nas próximas eleições.
“Esperamos um próximo governo que trabalhe de
maneira muito forte e rápida na retomada da competitividade do país e,
consequentemente, na retomada de nossa produtividade. Além de tudo isso, e não
menos importante, um governo que trabalhe pela simplificação de nossos
procedimentos e operações, pela flexibilização das leis trabalhistas, por um
processo de melhor acesso ao mercado internacional, falando especificamente de
acordos preferenciais com maiores compradores, e um país que desonere a produção.
Tudo isso envolve o primeiro item que é a competitividade. Esse é o ponto que,
mais do que nunca, é importante.”
Rafael Cervone, presidente da Abit
“O que sempre esperamos é que o governo
proporcione mais competitividade às empresas, crie um ambiente favorável a ela.
Hoje nós temos um ambiente favorável à competição externa. É muito mais fácil,
barato e menos burocrático produzir fora do Brasil. Os números estão aí. A
indústria vem perdendo espaço ano após ano devido a esse motivo. Eu vejo que
são poucas coisas que precisam ser resolvidas, mas são coisas importantes. Com
um pouco de boa vontade do governo, dá para fazer. Uma delas é a burocracia.
Hoje, no Brasil, temos uma complexidade de impostos absurda. Enquanto uma
empresa aqui tem 20 pessoas na área contábil e fiscal, por exemplo, lá fora
haveria apenas uma pessoa. Só aí carrega-se um custo invisível, que é um custo
indireto de produção, que não medimos, mas existe. Outra são as relações
trabalhistas: as empresas querem crescer, as pessoas querem crescer, o Brasil é
um país de oportunidades, as pessoas e empresas poderiam crescer muito mais.
Mas nossa legislação é muito antiga, não dá agilidade às relações de trabalho.
Muitas vezes, o funcionário quer certas flexibilidades e a empresa não pode dar
porque a lei não permite. Infraestrutura: nosso custo interno hoje é
gigantesco, e competimos com países como China, Índia, Rússia – os Brics.
Quando olho para uma empresa, penso: quem são meus concorrentes, o que eles
estão fazendo que eu precise fazer tão bem quanto ou melhor? Nós temos que
fazer tão bem ou melhor que eles, pois temos um povo criativo, trabalhador, tem
muita gente competente no país. Acho que evoluímos muito nos últimos anos, mas
precisamos avançar mais.”
Claudio Grando, presidente da Audaces
“O setor de moda, em geral, não sabe o que
quer, não se une, não conversa, não se mobiliza. Evidentemente, para o governo
não é interessante mexer num setor que, comparado a outros, arrecada pouco, mas
emprega muito. Precisamos dessa integração, uma unidade que represente o setor
de fato.”
Alberto Hiar, CEO da Cavalera
“Não defendemos o protecionismo, mas
acreditamos que o governo tem por obrigação estimular a competitividade da
indústria têxtil brasileira em relação aos produtos importados. Dessa forma,
nossa expectativa é que o governo exerça seu papel de agente de promoção da
isonomia concorrencial. Dentre as medidas mais aguardadas, está a que trata do
Regime Tributário Competitivo para Confecção (RTCC), que pode representar uma
verdadeira revolução de competitividade, alavancando a geração de empregos e o
aumento da arrecadação.”
Marco Antonio Branquinho Junior, presidente
da CedroTêxtil
“A minha expectativa é que o próximo governo
adote, desde o primeiro dia, uma agenda nacional para a construção das bases
necessárias para a recuperação da competitividade da indústria brasileira, com
o objetivo de termos no país uma política industrial de verdade. Essa política
não poderá se limitar a medidas pontuais, que atendam às reinvindicações de um
ou de outro setor. Para ser efetiva e começar a reconduzir a indústria ao mesmo
nível de participação no PIB brasileiro de 20 anos atrás, é preciso, antes de
tudo, reconhecer que não haverá crescimento econômico sustentável baseado na
produção de bens de baixo valor agregado em serviços. Também é urgente a
simplificação da estrutura e das alíquotas dos impostos e taxas que oneram a
produção. Essa reforma está atrelada à adequação do tamanho da máquina do
Estado, para permitir que o governo utilize os instrumentos da política
econômica (juros, câmbio etc.) de forma equilibrada. O BNDES deve continuar a
fortalecer e a fomentar a indústria como parte de sua política industrial. A
modernização da legislação trabalhista também é uma prioridade. Precisamos de
contratos mais flexíveis e que contemplem as inovações tecnológicas e as
características de cada setor da economia. Mas temos que fazer isso propiciando
segurança jurídica aos investimentos, que é algo que o Brasil vem perdendo
muito nos últimos anos. Não é possível resolver todos esses pontos de uma só
vez, mas nenhum deles pode ser deixado de lado. Só assim será possível
enfrentar a concorrência externa e voltar a atrair investimentos para o setor
produtivo do Brasil; de outra forma não há como o país ter condições e
velocidade para crescer. Significa crescer mais do que nossos vizinhos e muito
mais do que os países desenvolvidos.”
Guilherme Weege, CEO do Grupo Malwee
“Esperamos que o novo governo federal promova
reformas, principalmente política e fiscal, permitindo que o país volte a
crescer e que todos os empresários e investidores saibam em que terreno estão
pisando e plantando.”
Eng. Edson José de Souza, diretor comercial
da SilmaqS/A
“O combate ao trabalho escravo entrou na
agenda do governo federal no governo do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, com a criação de grupos de auditores fiscais do Ministério do Trabalho
e Emprego (MTE) que conferiam denúncias de trabalho escravo, sobretudo em
fazendas do interior do Brasil. No governo Lula, o aparato institucional de
combate a esse crime teve um incremento considerável, com destaque para a
criação da chamada Lista Suja – cadastro oficial mantido pelo MTE com os dados
dos empregadores flagrados pela exploração do trabalho escravo. Além de se
firmar no nível das políticas públicas do Estado brasileiro, o combate ao
trabalho escravo foi abraçado pela sociedade civil, com a atuação de ONGs e
movimentos sociais. Então, o cerco aos maus empregadores saiu do campo e chegou
à cidade. Hoje, os casos de trabalho escravo no meio urbano já são mais
numerosos do que no rural, com destaque para a construção civil e a atividade
de costura. Esperamos que, independentemente de quem vença as eleições, sejam
preservadas as atuais políticas públicas de combate ao trabalho escravo –
consideradas referência mundial pela Organização Internacional do Trabalho
(OIT). Para tanto, é preciso que o próximo governo atue de maneira firme com
sua base aliada no Congresso Nacional para que seja mantida a atual redação do
artigo 149 do Código Penal, que define o crime de ‘redução a condições análogas
à de escravo’, sempre criticada pela bancada ruralista e pelos inimigos do
trabalho decente no Brasil. E que também não se dobre às pressões para esvaziar
ou desconfigurar a Lista Suja, o principal instrumento de combate ao trabalho
escravo no Brasil, por propor sanções econômicas – como o corte de
financiamento púbico – a quem explora o ser humano como mercadoria
descartável.”
Carlos Juliano Barros, jornalista e
pesquisador da ONG Repórter Brasil, um dos idealizadores do APP Moda Livre
“Em nosso Brasil, nos últimos 11 anos, o
volume de vendas no comércio cresceu cerca de 188%, enquanto a produção física
da indústria foi de 27% no mesmo período. A importação de produtos industriais
passou de 10% para quase 24%, ou seja, ¼ do que hoje consumimos desses produtos
é importado. Para o Brasil voltar a ser competitivo em sua produção industrial,
o desafio é gigantesco para o próximo governo e a indústria nacional.
Precisamos, principalmente, que o ‘custo Brasil’ seja atacado pelos novos
governantes. Isto é, a carga tributária e o câmbio, só para citar os dois mais
pesados, tiram a capacidade brasileira de competir com nossos concorrentes
internacionais. Precisamos reduzir o ‘custo Brasil’ aos níveis médios de custo
desses países. Quando falamos em média, não é termos os custos mínimos que a
China e outros países da Ásia possuem, nem os custos máximos que o Brasil
pratica; média é estar no meio.”
João Paulo Reginatto, diretor-superintendente
da Sultextil e conselheiro da Abit
“O setor têxtil foi duramente atingido pela
política econômica. Hoje, a produção da Poko Pano foi direcionada a Portugal
devido aos altos custos de produção e impostos no Brasil. Atualmente, o avião é
o maior concorrente do produto brasileiro, porque, enquanto uma bermuda jeans
custa R$ 200 no Brasil, nos EUA o mesmo produto pode ser comprado pelo
equivalente a R$ 60. Portanto, a expectativa é que possamos ter um Brasil mais
justo, onde o incentivo à produção e a diminuição dos impostos sejam algumas
das metas. Tornar nosso produto competitivo é mais que uma tarefa, é uma
obrigação do próximo governo.”
Paola Robba, estilista e proprietária das
grifes Poko Pano e Paola Robba
“Em nome da Welttec, acreditamos que o novo
governo deva fazer alguma ação para o bloqueio do comércio que vem acontecendo
via postal. Já são milhares de roupas que, mensalmente, são compradas por
pessoas físicas em e-commerce no exterior para revenda sem nota fiscal no
mercado local, bem como para uso próprio. Isso significa que não há nenhum tipo
de geração de emprego nessa cadeia, o que, ao menos por meio de importadores
oficiais, acontece, pois exige uma demanda, uma estrutura administrativa e
comercial, além de haver maior arrecadação no estado e na federação.
Logicamente que o governo precisa ainda fazer muitas melhorias em nossa
infraestrutura e uma reforma tributária para aumentar a competitividade da
indústria nacional, o que, consequentemente, estimula as empresas a investir em
novas tecnologias.”
José Martins Neto, diretor de marketing da
Welttec
“Nosso país está definhando sob o ponto de
vista da competitividade internacional. Nossa estrutura de impostos e encargos
sociais não ajuda o exportador de produtos manufaturados. Enquanto tivermos
divisas para importar, estaremos garantidos, mas essa política já está dando
sinais de cansaço devido, principalmente, ao declínio do crescimento da
economia chinesa. Se o próximo presidente não se atentar a isso, em breve não
teremos volumes que justifiquem uma indústria verdadeiramente nacional. O novo
presidente deveria colocar em discussão um pacto com a sociedade para que se
elabore uma política de longo prazo para os setores industriais para que se
vislumbre a taxação sobre a renda, e não sobre o consumo, e melhore as
condições quanto à CLT. No Brasil, você sabe o quanto um funcionário custa
quando entra na empresa, mas dificilmente saberá quanto vai custar ao sair
dela. Infelizmente, nossos governantes têm a péssima mania de querer distribuir
os ganhos entre a população desprotegida, mas esquecem de dar condições à
iniciativa privada de contribuir para o enriquecimento do país.”
Mauro Andrada, diretor da Andrade Máquinas e
presidente da Abramaco
“Mais uma vez as esperanças se renovam com a
oportunidade de escolhermos o chefe da nação que conduzirá este imenso e tão
amado país. Nesses últimos 12 anos de governo do PT, tivemos um significativo
avanço na distribuição de renda. A tão propalada ‘classe C’ ganhou um grande
poder de consumo, dando a impressão, especialmente no último mandado do ex-presidente
Lula, que havíamos encontrado o caminho certo, que o crescimento do país era
quase uma consequência lógica. Infelizmente, pensou-se que, distribuindo renda
e aumentando o consumo, o problema econômico do Brasil estaria resolvido.
Esqueceu-se, talvez por conveniência eleitoreira, de que não basta dividir a
riqueza sem pensar em aumentá-la. Incentivando desbragadamente o consumo
irresponsável, criamos uma classe de devedores. Soma-se a toda essa situação a
inércia governamental no que diz respeito às reformas que a classe empresaria
já há muito reclama e que dariam à nossa economia uma competitividade à altura
das grandes nações, como uma reforma trabalhista que reconheça que a relação
patrão-empregado não pode ser pautada por paternalismo e antagonismo, em que a
produtividade é a maior vítima; uma reforma fiscal e tributária que simplifique
e clareie a relação entre o Estado e o contribuinte, sem penalizar o capital e
os investimentos produtivos; uma reforma na educação, em que a meritocracia seja
o foco principal; uma reforma na saúde, na segurança pública e no Judiciário;
investimento maciço em obras de infraestrutura que possibilitem ao país um
crescimento contínuo e sustentável; e, por fim, que consiga devolver aos
cidadãos o orgulho de ser brasileiros.”
Maria Abigail Beira Fortuna, diretora da
Morgan Tecnica no Brasil, conselheira fiscal da Fiep e membro da diretoria do
Sivale
“País rico é sinônimo de país industrializado
e, para o país ser bem-sucedido na produção industrial, não é preciso apenas
dispor de custos baixos de produção. O que realmente precisamos para reativar
nossa indústria é um ambiente favorável ao investimento industrial, como
crédito barato (assim como é feito com a agricultura), simplificação dos
tributos e encargos, eliminação de obrigações fiscais e trabalhistas descabidas
e revisão da NR12; infraestrutura básica que garanta acesso aos meios de
produção (água, energia, tratamento de efluentes, logística de escoamento,
qualificação de mão de obra); estímulos e acesso à inovação e qualificação das
empresas; acordos de comércio que criem acessos privilegiados a mercados
consumidores relevantes, como Europa e América do Norte. Não é possível
continuar dando estímulos apenas ao agronegócio para exportar bens primários,
como minério, petróleo, algodão em pluma, couro, celulose, grãos etc., para
depois sermos obrigados a importar bens industrializados, como automóveis,
gasolina, roupas, calçados, alimentos. Esses incentivos devem ser estendidos
também à indústria de transformação que, literalmente, como seu próprio nome
diz, transforma ‘terra em ouro’, ou melhor, minério em automóvel, fibra em
roupas, entre outros, gerando muito mais empregos e renda. Para ter uma ideia
do tamanho da oportunidade desperdiçada pela falta de política industrial no
Brasil, basta comparar o valor gerado por nossas exportações de fibras, algo em
torno de US$ 2 o quilo, com o valor gerado pela exportação de roupas pela nossa
indústria, perto de US$ 48 o quilo. Ao exportar apenas matérias-primas, abrimos
mão de gerar 24 vezes mais receitas, sem falar no emprego. Por isso mesmo, em
minha opinião, abrir mão da indústria de transformação no Brasil é um crime que
nenhum governo tem o direito de cometer.”
Marcelo Villin Prado, sócio-diretor do Iemi e
membro do Comitê Têxtil da Fiesp.
“O Brasil poderia ser um exportador de moda,
tem tudo para isso, ótimas empresas, ótimas matérias-primas, mão de obra em
abundância espalhados por todo o país, ótimo design e marcas fortes. No
entanto, inexiste qualquer política nesse sentido, já que nosso setor não foi
visto como estratégico, do ponto de vista econômico, pelos governos até agora. Portanto,
seria uma ótima oportunidade que os postulantes ao cargo máximo pudessem se
assessorar melhor de informações sobre a indústria da moda brasileira e
comprovar que temos um potencial enorme de crescimento, geração de empregos,
geração de impostos. Quem sabe assim conseguiremos exportar nossa moda, com
nosso design, para outros países consumidores. O grande desafio, portanto, está
em despertar o interesse dos governantes pela enorme indústria da moda
brasileira.”
Sergio Pires, presidente da Câmara da
Indústria da Moda da Fiesc e diretor da Tecnoblu
Fonte: Costura Perfeita