sábado, 8 de junho de 2013

Nada muda entre governo e indústria têxtil


Muito se discute, mas nada muda na tumultuada relação do governo brasileiro com a indústria têxtil nacional. As medidas antidumping hoje aplicadas para defender o setor produtivo do País da competição com os fabricantes estrangeiros, especialmente asiáticos, não são eficientes para defender um setor tão fragmentado, que possui diferentes tipos de produto. Fazer um processo antidumping para cada produto é inviável.

Dentro desse contexto, o Boletim Informativo Interface resgata texto da competente repórter Raquel Landim, do Estadão, publicado em janeiro deste ano, detalhando a "queda de braço" entre o setor têxtil e o governo no Brasil. Ela consultou profissionais da indústria têxtil (não identificados) que criticaram o Palácio do Planalto e os ministérios, lamentando a falta de sensibilidade aos problemas enfrentados pelos empresários da confecção, um setor altamente empregador.

Nessa conflituosa relação entram também outros atores. Os grandes varejistas têxteis, por exemplo, como Renner, Marisa e C&A, trabalham contra a imposição de cota para importação de roupas, argumentando que a indústria local não tem condições de atender a demanda nacional. Há, ainda, o consumidor final, o mais prejudicado de todo esse ciclo já que artigos de vestuários são muito caros no Brasil. Raquel Landim aponta que, prova disso, é que as malas dos turistas brasileiros voltam cheias de viagens a Miami, Nova York e até a Europa.

Confira parte do texto a seguir:

Em agosto do ano passado, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) protocolou um pedido de investigação de salvaguarda para 60 itens do setor de vestuário, que representam 82% das importações de roupas do País. Estão na lista camisas, calças, vestidos, saias, roupa infantil, moda praia, roupa íntima e etc. A salvaguarda é uma cota ou sobretaxa aplicada por alguns anos para todos os produtos do setor contra todos os países.

O pedido da Abit continua em análise no Departamento de Defesa Comercial (Decom), do ministério do Desenvolvimento, que não tem prazo para decidir se abre ou não o processo. A investigação só começa se o Decom entender que há indícios suficientes de que um surto de importação está provocando dano à indústria doméstica. O assunto pode parecer ainda muito preliminar, mas advogados especializados em defesa comercial explicam que conseguir a abertura do processo já é um ponto a favor do setor, porque “a pressão aumenta e o relógio começa a correr”.

Os técnicos do ministério consideraram “frágil”a petição entregue pela Abit, principalmente em relação ao dano provocado à indústria doméstica. Pelos dados apresentados no processo, as importações do setor de confecção cresceram 240% entre 2007 e 2011 e a participação das roupas vindas do exterior nas compras dos brasileiros saiu de 3% em 2005 para 9% em 2011. Mas o efeito sobre as empresas locais ainda é limitado. Em 2011 em relação a 2010, a produção caiu apenas 1,2%.

O blog apurou que o governo solicitou a Abit algumas informações adicionais. O Decom pediu para atualizar os dados, o que significa alterar o período da investigação de 2007-2011 para 2008-2012. Além disso, quer que sejam incluídas pelo menos mais 5 empresas no processo, elevando o número de companhias que abrem seus números para 40, um universo ainda limitado da indústria doméstica, que soma mais de 30 mil confecções com mais de 5 funcionários.

No setor, a insatisfação é crescente. “Falta vontade política. O governo está se escondendo atrás de argumentos técnicos”, disse uma fonte que preferiu não se identificar. Segundo esse interlocutor do setor privado, os empresários da confecção reconhecem que a salvaguarda é um instrumento “potente”, mas acham que “não deve ser mistificado”. A avaliação é que medidas antidumping não são eficientes para defender um setor tão fragmentado, que possui diferentes tipos de produto – teria que ser feito um processo antidumping para cada produto, algo praticamente inviável.

O setor têxtil é um dos lobbies mais bem organizados do País e diz que não “pretende jogar a toalha” no pedido de salvaguarda. Um empresário que pediu para permanecer no anonimato lembra que o setor foi estimulado a entrar com o pedido de salvaguarda pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que já manifestou publicamente o seu apoio ao pleito. Segundo uma fonte, a Abit tem mantido Mantega informado sobre o assunto, mas “o ministro tem assuntos mais urgentes, com alavancar o crescimento do País”.

Para fontes do governo, a confecção pode ser “ajudada de outras formas” – uma hipótese é um alívio tributário. O setor já faz parte da lista dos beneficiados com a desoneração da folha de pagamentos, mas, paradoxalmente, a medida ajudou pouco. Muitas confecções terceirizam a costura das roupas – a parte que gera mais empregos e, consequentemente, mais encargos trabalhistas.

Fonte: Interface