quarta-feira, 14 de março de 2012

Bancos nacionais vencem a batalha dos bônus

Fonte: Valor Econômico

Os bancos de investimento nacionais tomaram a dianteira no pagamento de bônus a seus executivos. Neste primeiro trimestre, época em que os pacotes de remuneração variável referentes ao ano anterior efetivamente "entram na conta" dos profissionais dessas instituições, a avaliação é de que os bancos internacionais perderam a batalha contra seus concorrentes brasileiros.

A situação econômica mundial afetou a maior parte das matrizes dessas companhias, o que fez com que elas perdessem competitividade, cortassem custos e fossem muito mais conservadoras ao premiar seus funcionários. "Os bônus dos bancos de investimento estrangeiros caíram em torno de 40% este ano em posições de 'front office', como é o caso de relacionamento com o cliente e operações de fusões e aquisições. Algumas instituições chegaram a zerar o seu variável", afirma Ana Carla Guimarães, gerente da Robert Half, empresa de recrutamento que anualmente pesquisa os salários do mercado financeiro.
 
Este ano, segundo ela, os valores do estudo serão revistos para baixo graças ao fraco desempenho dos bancos multinacionais. "Um profissional de alto escalão que no ano passado previa ganhar entre 20 e 30 salários precisou se contentar, na média, com 10 a 15. Muitos, porém, não receberam nada", exemplifica. Em contrapartida, os bons resultados dos bancos de investimento nacionais pressionaram para cima a remuneração variável paga a seus executivos. Joaquim Patto, diretor da área de serviços financeiros da consultoria Mercer, calcula que os bônus dessas instituições superaram, em média, 20% o valor pago no ano anterior.

Parte do contra-ataque dos bancos internacionais, segundo ele, tem sido incrementar os salários fixos. "Em média, eles cresceram 40% nos últimos dois anos", explica. Essa estratégia foi adotada para fazer frente aos agressivos rivais nacionais. É o caso do Santander, que no ano passado reviu a política de salários e benefícios do seu banco de investimentos para se aproximar mais da média paga pela concorrência. Além disso, a instituição "alongou" o pagamento de bônus, aumentando a participação de ações e incentivos de longo prazo. "Esses valores começarão a entrar em 'caixa' a partir do terceiro ano. A revisão, portanto, foi feita para ajustar a remuneração dos profissionais", afirma Lilian Guimarães, vice-presidente de recursos humanos do Santander.

Comparados aos bancos de investimento ligados aos de varejo, como é o caso do Santander, o perfil de remuneração também costuma ser menos competitivo do que os bancos de investimento 'puros'. Um alto executivo de uma dessas instituições, de capital nacional, afirma que nunca recebeu tantos contatos de profissionais da concorrência interessados em se juntar à sua equipe como nos últimos meses. "A nossa estratégia salarial continua a mesma. Isso significa que o fixo é baixo, mas o variável é acima da média dos outros bancos, totalmente em dinheiro e atrelado aos resultados", diz.

O pagamento da maior parte dos bônus em ações, segundo o executivo, é uma medida que tem sido malvista pelos profissionais do mercado. "Os executivos reclamam que são ativos que ninguém quer". Apesar das críticas, a opção por pagar incentivos de longo prazo tem feito cada vez mais parte da estratégia dos bancos de investimento.
 
Em parte, a medida é uma resposta das instituições à Resolução nº 3921, do Banco Central do Brasil, que estabelece que os diretores estatutários do mercado financeiro recebam pelo menos 50% de seus bônus em ações. "A norma atinge diretamente apenas o alto escalão, mas essa filosofia acaba se disseminando também para outros níveis", afirma Patto, da Mercer.

Além de atender à orientação do BC, a remuneração de longo prazo funciona como uma forma de reeducar esse mercado. "É uma estratégia para aumentar a retenção dos profissionais", afirma Carlos Eduardo Dias, CEO da consultoria Asap. "Após a crise, as autoridades monetárias obrigaram os bancos a implementar sistemas de remuneração mais rigorosos e que comprometessem mais os executivos com o resultado de seu trabalho", afirma Celson Hupfer, sócio da consultoria de recrutamento Havik.
 
Essas, porém, não são as únicas explicações para a queda dos bônus de curto prazo nas instituições estrangeiras. "Como lá fora o mercado não está bom, o repasse para a matriz é maior e isso diminui a fatia destinada aos bônus. Além disso, eles estão mais cautelosos para assumir riscos e acabaram tendo resultados tímidos", explica Dias. Esse cenário, segundo o CEO da Asap, desestimulou até mesmo os 'hiring bonus' - pacotes pagos no momento da contratação para compensar uma possível perda para o executivo que mudava de instituição antes de receber o aguardado variável.

Na visão dos especialistas, porém, esse pode ser um movimento positivo. "Está havendo um reequilíbrio entre a remuneração do setor financeiro com a do industrial e a do produtivo. O abismo salarial continua muito grande, mas a tendência é de que se torne menor", afirma Hupfer.
 
Joaquim Patto, da Mercer, afirma que é preciso evitar a conclusão de que os multinacionais são menos competitivos. "Não é tão catastrófico quanto parece. Se houver melhora nos resultados desses bancos, a tendência é de que essa perda seja apenas temporária e haja recuperação na remuneração a longo prazo", diz.